" Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar...


Clarice Lispector.


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Controle....




Quem dera poder controlar tudo que nos cerca em doses seguras e não letais. A lógica em querer controlar, talvez esteja justamente no desejo de fazer durar, como se de alguma forma, possuíssemos o poder de determinar a duração das coisas que nos são importantes, do tempo, dos sentimentos, da alegria e da paz mesmo que hipoteticamente ou não....

Somos possuídos por uma sensação maluca que nos invade, nos colocando a prova, nos fazendo ser e ter comportamentos que muitas vezes fogem de nós, nossa intenção é cuidar, zelar pelo bem estar do outro, não cercear. É um controlar ligado muito mais ao bem querer do que ao controle propriamente dito, não no sentido de limitar ações, sentimentos e atitudes...

Adoramos a liberdade que as escolhas nos permitem, adoramos poder ser quem somos  e viver esta plenitude , adoramos amar sem pensar em limitações, rótulos, cárceres e qualquer tipo de controle, isso não combina com os sentimentos que nos habitam, com o desejo de querer somente o bem à quem amamos, mesmo que possa parecer contraditório as vezes.....


Quando se quer bem alguém o tempo todo desejamos que a vida siga um curso seguro, onde possamos seguramente controlar tudo que esteja em nossas mãos, evitar riscos, corações partidos, decepções e expectativas vazias, queremos que nada saia do controle, que tudo aconteça de modo e forma que nos alente  a alma, que pulse o coração e nos preencha por completo, que não  falte nada à ninguém  e que todos e digo todos sejam felizes...

E pensando assim, qual a chave que desliga, como não controlar, como não zelar por aquilo que se acha ter, um possuir que pode a qualquer momento deixar de existir, embora sabemos que a dita "responsabilidade", determina o nível de controle, dita os níveis seguros para equilibrar medos e expectativas, duas nuances que se alternam no controle do quando sentimos e quanto queremos ....

Talvez, exatamente aí, mesmo tudo estando sob controle, somos capazes de perder a cabeça, perder a noção do que é aceitável, do que é controlável, nos tornamos pequenos, incontroláveis quando falamos de sentimentos, não somos senhores de nós quando somos pegos pelos desejos de ter e possuir, cegados pelo que sentimos e alimentamos, escravos dos nossos desejos e  felicidades,  da sensação maravilhosa de se ter um amor, de se ter alguém  que cuide  e zele por nós....

Ainda sim.... ter o sabor do controle é registrar no outro uma parte de nós, ter o poder de escolha e decisão, ditar o rítmo dos dias, do tempo das coisas, do tamanho do querer, dos gostos e sabores a degustar, de escolher as músicas que farão lembrar de nós, da intensidade do beijo, do cheiro que deixa  a presença ....aínda sim..... é uma delicia controlar.....